domingo, 8 de fevereiro de 2009

entrevista para rádio excelsior

Na última sexta-feira, dia 6 de fevereiro, recebemos no Arquivo Público e Histórico de Rio Claro a imprensa Rio-clarense. Para quem se interessar em conhecer o que estamos fazendo nessa autarquia, clique no endereço: http://www.youtube.com/watch?v=ZN0_Rw1enW4
Abraços

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A violência “branca” - Maria Teresa de Arruda Campos



Quando falamos de violência nos aparecem imagens de crimes tais como homicídios, estupros e roubos seguidos de morte, violências que sangram e marcam de vermelho, que mostram o sangue e o corpo ferido.
Essa violência é clara e não deixa dúvidas. Mas essa não é a única violência que nos ameaça. Existe uma outra violência, também conhecida como “violência ‘branca’, muito mais sutil, porque não ‘salta à vista’, passa despercebida como se apenas resultasse da ‘ordem natural das coisas’, não da ação humana intencional”[1](ARANHA, 1997).
Vivemos muitas dessas violências em nosso dia-a-dia. Como podemos identificá-las?
Olhemos para a forma como nossa sociedade vem funcionando:
· Por um lado, há um desperdício total de comida enquanto muitas pessoas reviram os lixos à procura de restos de alimentos. Onde mora essa violência?
· Carros blindados quase vazios convivem no trânsito de São Paulo com os ônibus abarrotados e pessoas saindo pela porta, metade dentro metade fora.
· Mansões de oito, dez quartos para três ou quatro pessoas, enquanto barracos sem água nem esgoto abrigam cinco, seis crianças e seus pais.
· Salários exorbitantes para jogadores de futebol, para gerentes de multinacionais e salários baixos para a grande maioria.
· Desemprego, habitação ruim, transporte inadequado, escola desmotivada, sistema de saúde inoperante, comida escassa, assim vive nossa população, assistindo telenovelas alienantes que apresentam modos de vida farta como modelo de ascensão social e criam desejos também que motivam os crimes.
“O Brasil é, tristemente, um dos países com as mais altas taxas de mortalidade infantil no mundo. Segundo dados do IBGE e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em cada mil crianças nascidas vivas, morrem 45 antes de completar um ano de idade. No Nordeste esse número sobe para 75! Comparativamente, no Japão a taxa é de 5,2 óbitos”[2].
Diante de fatos como esse, acusamos as mães pela falta de cuidado e higiene, os pais por usarem parte do salário no bar da esquina, a enfermeira que demorou a atender no hospital, o trânsito que estava parado... o problema sempre está no outro que não fez de forma satisfatória o que deveria ser feito.
Mas e quando ‘o outro’ somos nós?
Como temos vivido nossa vida de forma a não reforçar ou provocar a violência branca?
Será que a omissão escondida na falta de tempo e na vida corrida não tem seu papel de destaque nessa questão?
Esse macro da vida cotidiana que dirige nosso fazer, traz suas raízes na forma como nossa sociedade está organizada e essa sociedade não é um ente abstrato, ela somos nós também.
Toda essa forma de viver a vida vai cristalizando situações de desigualdade que não conseguem furar o cerco das injustiças e que traçam marcas claramente doloridas.
As pessoas sentem-se no direito de produzir apelidos, de discriminar pessoas, de sujeitar, de humilhar, de subestimar, de ridicularizar, de nomear o outro com aquilo que o incomoda como se essas situações inventadas no cotidiano não fossem produtoras de violências e não produzissem reações.
Cenas em sala de aula onde apelidos não são discutidos, onde agressões verbais são reprimidas, onde discutir e destrinchar esses acontecimentos são ações que passam como se nada houvesse acontecido, ignoradas podem ser motivos para outras violências que num segundo momento virão à tona. Atrás de violências brancas, outras violências virão...
Quando nos sentimos humilhados, uma raiva surge e queremos soltar aquilo de alguma forma. Ninguém é igual ao outro e impedir que essas singularidades se manifestem é algo que produz reação e nem sempre essa reação é algo que positiva uma ação, muitas vezes é motivo de uma ação de violência até como forma de se defender.
A violência branca passa desapercebida, muitas vezes naturalizada como uma “brincadeira”. Mas que brincadeira é essa que em lugar de trazer alegria, trás raiva, mágoa, vontade de vingar-se?
Vamos nos acostumando a essa violência e acabamos olhando somente para aquelas que espirram sangue. Fatos aparentemente banais podem ser causas de outras violências. Estamos subestimando essas situações.
Pais que matam filhos, namorados que matam namoradas, amigos que matam amigos estão na mídia e são tratados como se fossem fatos isolados. Que situações antecederam cada um desses crimes? Como as relações estavam organizadas em cada uma delas? Claro que “n” situações de violência branca antecederam e permearam aquelas casas, aquelas pessoas. Alguém olhou para isso? Claro que não, ninguém podia olhar para elas, todos estavam ocupados demais.
“Coisas da vida, minha nega”, como assinala Paulinho da Viola. Será que nos conformarmos com elas e naturalizarmos sua existência nos ajudará a viver?
Banalizamos o i-banalizável. Acostumamos-nos com o que não deveríamos nos acostumar. A civilização precisa de indignação, de ousadia e arte. Só assim vamos buscar um caminho para seguir que nos apresente soluções criativas e não somente repetições violentas. “A vida não é banal, nem a violência pode ser banal”[3]. Cada ato é resultado da vontade humana que, ao naturalizar, ao fazer de conta que “tem que ser assim, sempre foi assim”, desconsidera a gravidade que o fato exige.
A existência pode se diferenciar do que está sendo colocado como existência se puder ser vivida de modo a olhar de outra forma para si mesmo e para o outro. “Constituir-se a si mesmo como sujeito ético de suas próprias ações é vincular o que se é ao que se pode fazer e ao que se é obrigado a realizar. Esse cuidado de si difere totalmente do olhar narcísico contemporâneo. (...) Os acontecimentos que atingem nossas vidas nos lançam a ações nas quais pensar é enfrentar o fio da navalha entre a vida e a morte, é encararmos a nós mesmos num perpétuo combate entre o que somos e o que desejam que sejamos, entre o trabalho de nós para conosco e a comunicação com os outros.[4]
E disso, fazemos nossas escolhas, nossas dores e prazeres. Posicionamos-nos como pessoas, como cidadãos desse tempo que olha a vida e tenta sorrir.
[1] ARANHA, M.L.A. Violência e Cidadania. In: Kupstas, M. (org). Violência em Debate. São Paulo: Moderna, 1997, p. 28.
[2] Ibidem, p. 28
[3] Ibidem, pág 29.
[4] Guimarães, A. Jovens tutores da desordem e da violência? In Camargo e Mariguela (org). Cotidiano Escolar:Emergência e Invenção. Piracicaba: Jacintha Editores, 2007, p. 160-161

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

SEMENTES

Semente que germina gente
Gente que muda
Semente que produz esperança
Gente que gosta da gente
Dias de sol
Noites de lua
Flores e alegria
Começos e despedidas
Tudo junto com
Gentes e sementes
Tudo muito claro
Como sementes e gentes

t. arruda – 22/julho/08

Chegando...

É muito bom poder ter um espaço para compartilhar o que aprendemos e fazemos.
Aqui vou registrar algumas das coisas que tenho produzido e lido nesses tempos.